Ensaio técnico do Consórcio PCJ alerta para possibilidade de uso total da água do Sistema e risco de desabastecimento, inclusive durante a Copa do Mundo
O Consórcio PCJ realizou estudo técnico sobre os possíveis impactos no Sistema Cantareira caso a estiagem e os níveis de chuvas bem abaixo da média persistam nos próximos meses. Pelos ensaios realizados, com as precipitações que estão ocorrendo, somado à quantidade de água que está entrando no Sistema e o que está sendo retirado para o abastecimento da Grande São Paulo e das Bacias PCJ, há grande possibilidade de em 100 dias ser consumida totalmente a água armazenada nos reservatórios.
Os técnicos do Consórcio PCJ usaram como parâmetro a média das precipitações nos últimos três meses, que estão 50% menores que a média histórica para o período e verificaram a chamada vazão de afluência (a quantidade de água que entra no Cantareira), que está entre 7 e 10 m3/s, em face da vazões de jusante, que são enviadas para as Bacias PCJ e da vazão de retirada pelo Túnel 5 que é enviada para a Grande São Paulo. Atualmente, está sendo liberado 3 m3/s para as Bacias PCJ e 30 m3/s para São Paulo, o que totaliza 33 m3/s. A persistir esses índices nos próximos meses, o Sistema será totalmente consumido até o mês de abril, o que pode acarretar a necessidade de racionamento na Região Metropolitana de São Paulo e reflexos no abastecimento das cidades das Bacias PCJ, onde estão grandes polos econômicos e tecnológicos, como a Região Metropolitana de Campinas e o Aglomerado Urbano de Piracicaba e Jundiaí.
Pelos cálculos do Consórcio PCJ, é grande a possibilidade de essas regiões enfrentarem problemas de escassez hídrica durante a Copa do Mundo, em junho. Tanto a Grande São Paulo como as Bacias PCJ receberão diversas seleções que ficarão hospedadas para o torneio de futebol. Até o momento, a região Metropolitana de Campinas será a casa de seleções como a Portugal e Nigéria, enquanto a Grande São Paulo será a base das seleções Norte-Americana, do Irã, e da Colômbia.
Pelo ensaio técnico do Consórcio PCJ, Vazões de retirada na ordem de 30 m3/s em razão de uma vazão de afluência de 7 m3/s e com o Sistema Cantareira operando apenas a 24% da sua capacidade poderão impactar severamente o nível dos reservatórios e comprometer o volume mínimo de água para atravessar a época de estiagem. Caso os reservatórios sejam consumidos integralmente, estudos do Convênio entre o Consórcio PCJ e a Unicamp alertam que as represas podem levar cinco anos para se recuperarem e voltarem a armazenar água. O Reservatório Jaguari/Jacareí, o maior do Sistema Cantareira, por exemplo, quando foi construído e finalizado no início da década de 1980 levou dois anos para ser carregado. Essas projeções dependem muito do comportamento do clima e do volume de chuvas no período.
O Consórcio PCJ vem alertando municípios e órgãos gestores desde 19 de dezembro sobre as baixas precipitações e o comprometimento do armazenamento de água no Sistema Cantareira para a estiagem, indicando a necessidade de conscientização da população sobre o início imediato de racionalização do consumo de água. Há sério risco de que a Grande São Paulo poderá sofrer racionamento na estiagem que se inicia em meados de abril. Os municípios nas Bacias PCJ também estarão mais suscetíveis ao comportamento das baixas vazões dos rios da região com grande possibilidade de não contar com vazões adicionais do Cantareira para o mesmo período.
O ano hidrológico é divido em duas partes. A primeira que se inicia em outubro e vai até abril, é considerada a época de chuvas. A segunda começa em maio e vai até setembro, que é quando ocorrem poucas precipitações.
Pelo estudo do convênio da Unicamp, os técnicos apontam um possível deslocamento das estações do ano, o que justificaria essa estiagem atípica. Portanto, há a possibilidade de que as chuvas se intensifiquem nos próximos meses e avancem além do mês de abril. Porém, o ensaio técnico do Consórcio PCJ atenta que são necessárias precipitações na ordem de 1 mil milímetros até março para que o Sistema Cantareira possa se recuperar para a estiagem.
Esta é a pior estiagem dos últimos 10 anos vividos pelo Cantareira. O ano de 2013 foi o mais seco desde 1988. E o estudo do Plano Diretor da Macrometrópole (região que engloba o PCJ, Grande São Paulo, Sorocaba, Baixada Santista e Paraíba do Sul), apresentado em outubro de 2013, atentou que caso se repita a pior estiagem da série histórica, verificada entre os anos de 1953 e 1956, a Região Metropolitana de Campinas seria abastecida apenas em 20% do tempo e os reservatórios do Cantareira seriam secados. Talvez não esteja muito longe disso.
Ensaio técnico do Consórcio PCJ alerta para possibilidade de uso total da água do Sistema e risco de desabastecimento, inclusive durante a Copa do Mundo