Durante estiagem, Capital paulista possui 49,62 m³ por habitante /ano ante 292 m³ do Oriente Médio, que possui regiões desérticas.
A Organização das Nações Unidas (ONU) considera que toda bacia hidrográfica com disponibilidade hídrica abaixo de 1.500 m³ por habitante/ano é considerada uma bacia de escassez severa de água. O que dizer então da Bacia do Alto Tietê, onde está a Grande São Paulo, que possui 49,62 m³ por habitante/ano? O dado faz parte de atualização feita pelo Consórcio PCJ – associação de usuários da água no interior de São Paulo – de estudo do Professor da PUC-Campinas e técnico da SANASA, Armando Gallo, realizado em 1996. Essa disponibilidade é menor inclusive do que a verificada em vários países do Oriente Médio, que possuem características desérticas.
A título de comparação, o Oriente Médio no estudo de Gallo possuía naquela época disponibilidade hídrica de 450 m³ por habitante/ano. Hoje, segundo dados do Relatório 2015 das Nações Unidas para Desenvolvimento Hídrico, a região possui 292 m³ por habitante/ano. As Bacias PCJ e do Alto Tietê, onde está a Grande São Paulo, seguem tendo comportamento de bacias hidrográficas com alto estresse hídrico. Ainda segundo a ONU, enquadram-se nessa condição regiões com menos de 1000 m³ por habitante/ano. Nas Bacias PCJ, no interior do Estado, a disponibilidade está em 298,79 m³ por habitante/ano.
A disponibilidade hídrica baixa revela-se mais estressante durante períodos de estiagens severas, como a que todo o sudeste do Brasil está passando desde o final de 2013, e fez com que os reservatórios do Sistema Cantareira baixassem a níveis nunca antes registrados, alcançando o volume chamado de Reserva Técnica.
O Consórcio PCJ tem pensado em alternativas para ampliar a disponibilidade hídrica da Bacia do Alto Tietê, onde está a Grande São Paulo, como forma de reduzir a dependência das nascentes das Bacias PCJ, por meio do Sistema Cantareira.
Uma das alternativas apresentadas pela entidade é o estudo sobre o uso de piscinões, empregados para reter ondas de pico em enchentes, para bombear a água retida nos mesmos para os reservatórios da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), como Billings e Guarapiranga, através de tubulações que poderão ser acopladas às margens dos córregos e rios que cortam a RMSP.
Atualmente, a região conta com 51 piscinões em operação e três em construção, e água reservada por eles após a onda de pico das enchentes é descarregada nos rios da região, sem aproveitamento da mesma para abastecimento.
Segundo o Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), o Governo de São Paulo anunciou a publicação, em março de 2013, do edital de licitação pública para a PPP (Parceria Público-Privada) para 45 piscinões na RMSP. Essa é a primeira PPP na área de combate a enchentes. Terá um prazo de vigência de 20 anos e fará a implantação e a construção de sete novos reservatórios. Com os novos piscinões a capacidade de armazenar água na Grande São Paulo passará de 5 para 9,5 milhões de metros cúbicos.
De acordo com o estudo do Consórcio PCJ, num calculo aproximado, tendo como base o consumo médio de 200 litros por habitante/dia, essa capacidade total de armazenamento de água dos piscinões, pode abastecer por um dia 47,5 milhões de pessoas ou uma cidade com mais de um milhão de habitantes como Campinas, no interior do Estado de São Paulo, por aproximadamente 44 dias.
O estudo ainda atenta para caso não seja possível o bombeamento das águas dos piscinões para os reservatórios ao entorno da Grande São Paulo, o estudo do Consórcio PCJ assinala como alternativa a instalação de estações de tratamento de água compactas para atender os bairros ao redor dos piscinões.
Segundo o secretário executivo do Consórcio PCJ, Francisco Lahóz, toda água possível de reservação deve ser armazenada. “É essencial que toda esta água não se perca a jusante, ou seja, tem que ser reaproveitada, ou em estações compactas de tratamento de água, ou transportada até reservatórios a montante, ampliando-se a oferta hídrica da RMSP e minimizando os problemas de escassez”, assinala.
O estudo, intitulado “Utilização das Águas Captadas e Armazenadas em Piscinões para o Abastecimento de Reservatórios Existentes na RMSP”, conclui que toda água precipitada na RMSP seja armazenada e reutilizada, aumentando-se assim a disponibilidade hídrica da região, tendo em vista, que haverá aumento dos riscos de enchentes, inundações e de deslizamentos de terra na região metropolitana de São Paulo, devido à ocorrência cada vez mais frequente de eventos climáticos extremos. Já nas regiões norte, central e leste do estado, além de mudanças no regime de chuvas, as secas também serão mais prolongadas.