Repetição do evento La Niña pode atrasar início das precipitações nesse ano e diminuir volumes em 2022. Sistema Cantareira também não recebe mais reforço de água do Paraíba do Sul desde a última quinta-feira, dia 02 de setembro.
O Consórcio PCJ liberou aos municípios e empresas membros da entidade seu novo Boletim sobre a Disponibilidade Hídrica nas Bacias PCJ, no qual atenta para a confirmação dos cenários que os técnicos têm simulado, o que deve ocasionar redução do armazenamento de água no Sistema Cantareira, importante manancial para a bacia e a Região Metropolitana de São Paulo, com potencial dos reservatórios adentrarem o mês de dezembro com apenas 20,20% de seu volume útil. Some-se a isso que desde a última quinta-feira, dia 02, o Sistema não recebe mais o reforço das vazões do reservatório Jaguari, no Paraíba do Sul (também popularmente conhecido como Igaratá) por já ter atingido sua outorga máxima, o que ao lado da ocorrência em sequência de um novo La Niña, irá pressionar ainda mais o volume de água reservada no Cantareira.
O documento apresenta que as vazões de afluência aos reservatórios na atualidade estão em níveis muito similares aos verificados durante a crise hídrica de 2014, considerada a pior ocorrência climática da série histórica. As chuvas durante todo o ano de 2021 seguem com precipitações abaixo da média e, de acordo com a Nota Técnica do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o trimestre de setembro a novembro deverá apresentar um volume total de chuvas entre 10 e 50mm abaixo da média climatológica, sendo que em algumas cidades da nossa região até 100 mm menor.
Essa redução das chuvas podem ser ainda reflexo do último La Niña, que ocorreu ao final de 2020 e início de 2021, porém, o boletim liberado pela Administração de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, confirma a reincidência de um novo La Niña em 2021/2022, com potencial de reduzir ainda mais as chuvas no período, o que pode comprometer a disponibilidade hídrica em 2022, inclusive nos municípios atendidos pelas vazões adicionais do Sistema Cantareira, já que o mesmo deverá adentrar no próximo ano operando na faixa 4, ou seja, com restrição de retirada de água das barragens.
Esta ocorrência em sequência é um evento raro. Nos últimos 35 anos a repetição de La Niña consecutiva ocorreu apenas três vezes: nas temporadas 2008/2009, 2011/2012 e 2017/18.
O Consórcio PCJ informou ainda no Boletim que um possível cenário de crise hídrica durante o ano de 2022 pode ainda ser mais complexo diante do processo eleitoral que tende a politizar assuntos estritamente técnicos e recomendou que os municípios e empresas associados criem Grupos de Gestão de Crise Hídrica (GGCH), com o objetivo de iniciar os debates com diversos setores da sociedade para traçar ações e planos de contingenciamento para um possível e crescente agravamento da disponibilidade hídrica.
Além disso, a entidade voltou a recomendar inciativas para ampliar a reserva de água e iniciar campanhas de sensibilização da comunidade sobre o uso eficiente da água. Dentre essas ações, podem ser destacadas: obras para ampliação de reserva de água bruta ou tratada, plantios ciliares, desassoreamentos, preservação de mananciais, recarga do lençol freático, medidas essas, que garantam maior resiliência aos eventos extremos.