Nota de esclarecimento sobre a realidade da criticidade da dependência hídrica da Região Metropolitana de São Paulo

Atualmente, durante a estiagem atípica de 2014, com ocorrência em pleno verão, muitas informações totalmente novas chegam até a comunidade, que surpresa e sem conhecer o histórico dos equívocos de planejamentos e ações, acabam estabelecendo um conceito totalmente distorcido da realidade.

 

Esse é o entendimento dos especialistas em recursos hídricos, que procuram através de manifestações e resgates históricos trazer como experiência para todos a correta interpretação dos fatos.

A falta de planejamento e fiscalização do uso e ocupação do solo é algo registrado em todas as regiões do mundo e, livros que tratam do assunto ressaltam que não adianta procurar culpados, pois aprender com os efeitos diretos e colaterais do erro faz parte do ser humano.

Comentam os analistas do setor, que o município de São Paulo é destaque internacional quanto a seu crescimento inesperado, tanto industrial quanto populacional, produzindo até os nossos dias uma região metropolitana com mais de 22 milhões de habitantes e embora tenham ocorrido inúmeras tentativas das administrações públicas, que se sucederam, o crescimento da ocupação territorial aconteceu de forma desordenada.

A represa de Guarapiranga, região sul de São Paulo, inicialmente voltada para produção de energia elétrica, a partir de 1928 passou a contribuir com o abastecimento hídrico da cidade, recebendo o reforço do reservatório de Billings (Capital-SP) em 1949.

Mas sempre insuficientes frente ao crescimento populacional, que atualmente embora em menor escala registre o acréscimo de, no mínimo 220 mil novos habitantes por ano.

Registros históricos mostram que estudos desenvolvidos ao longo de anos apontaram na década de 60 duas grandes soluções para suprir o abastecimento da RMSP.

Sendo a primeira, a construção de 7 reservatórios no “Vale do Ribeira” permitindo uma oferta de água equivalente a todo o consumo atual da RMSP, por volta de 80 m3/segundo, com um custo estimado de 6 bilhões de dólares. Tal proposta, concluem os especialistas, somado aos demais reservatórios existentes, teria deixado a RMSP sem problemas de abastecimento de água até 2050.

As dificuldades de controle no uso e ocupação do solo em todo o entorno de Guarapiranga e Bilings, provocaram a ocupação imobiliária desordenada, com lançamento de esgotos e resíduos direto nos reservatórios, somado ao crescimento assustador da Metrópole Bandeirante, levando os administradores públicos da época a obrigatoriamente partir para novas fontes de abastecimento.

Infelizmente, conforme evidência real cometeu-se um erro histórico de planejamento e optou-se para a segunda grande alternativa apontada pelos estudos, que foi a construção do Sistema Cantareira, com três grandes reservatórios nas nascentes do rio Piracicaba (Jaguari/Jacareí. Cachoeira e Atibainha), bacia hidrográfica localizada no interior de São Paulo (atualmente com 75 municípios incluindo Campinas, Piracicaba, Limeira, Americana, entre outros) e mais um na Bacia do Alto Tietê (RMSP) denominado Paiva Castro.

O Sistema custou menos que a primeira opção, ficando em um bilhão de dólares, porém atendendo pouco mais de 50% do abastecimento da RMSP e deixando o interior, na bacia do Piracicaba, prejudicada nas  suas reservas de abastecimento.

Na mesma ocasião, o Governo de São Paulo induziu o vetor de crescimento para os Municípios de Campinas, São José dos Campos e Sorocaba. Para Campinas e região significou estímulo ao crescimento industrial, agrícola e populacional e retirada da água para dar sustentabilidade hídrica a RMSP.

Tal situação levou a Prefeitura Municipal de Piracicaba (SP) a mover, em 1981, uma “Ação Cautelar Indenizatória” contra a “SABESP” e a “Fazenda do Estado de São Paulo”, no valor de 30 milhões de dólares, valor financeiro gasto pelo município que, com a construção do Sistema Cantareira,  provocou reduções de vazões e da capacidade de diluição de elementos poluentes no rio Piracicaba, obrigando-se a efetuar outros investimentos para procurar água junto ao Rio Corumbataí, distante 20 quilômetros  do Município.

O exemplo de Piracicaba comprova que a construção do Sistema Cantareira obrigou toda a região da Bacia do Piracicaba, a realizar fortes investimentos e ações para garantir água para sua comunidade. Tal região hidrográfica é composta pelas bacias hidrográficas do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Bacias PCJ).

Vários outros municípios investiram pesado em obras de transposição de água, construção de reservatórios, combate a perdas nas redes públicas de distribuição, proteção a nascentes e ações afins. Destacaremos os municípios de Campinas, Cosmópolis, Iracemápolís, Jundiaí, Limeira, Nova Odessa. Piracicaba, Santa Bárbara D’Oeste, Sumaré, entre outros, que juntos, somam dezenas de milhões investidos.

Com a construção do sistema Cantareira e, devido a escassez hídrica mostrar-se alarmante levou a criação do Consórcio PCJ em 1989, do Comitê PCJ em 1993, evoluindo para Comitês PCJ, permitindo a organização da região e através do “Planejamento, Fomento e Sensibilização”, provocando a elevação do índice de tratamento de esgotos domésticos das Bacias PCJ de 3% para 60%.

Registrando-se municípios como Campinas e Limeira com índices de perdas físicas em seus sistemas de distribuição na ordem de 19% e 15%, sendo que a média ideal internacional recomendada é de 20%.

As bacia PCJ, pela própria iniciativa viabilizou a elaboração de três projetos básicos e estudos ambientas prévios de reservatórios que somados regularizarão  aproximadamente 8m3/segundo de água,  localizados nos rios Camanducaia (Município de Amparo), Jaguarí (Município de Pedreira) e Ribeirão Piraí (Município de Salto, próximo ao Aeroporto de Viracopos – Campinas).

Também se utiliza de tecnologias alternativas, nas bacias PCJ, tanto que a SANASA – Campinas irá fornecer 600 litros por segundo, de água de reuso de Estação de Tratamento de Esgotos para abastecer o Aeroporto de Viracopos, após a sua ampliação, no momento em obras. Lembramos que tal vazão abastece o equivalente a população  de 100 mil pessoas.

Com a implantação de vários programas, inclusive, da “Cobrança pelo Uso da água”, a partir de 2006, as bacias PCJ reduziram seu consumo de água Industrial de 15 m3 por segundo para 9,8 m3 por segundo.

Em 2004 foi renovada por mais 10 anos a outorga, autorização para a SABESP permanecer utilizando as águas do Sistema Cantareira. O documento principal expedido foi a Portaria DAEE 1213/2004, onde consta que nesse período a SABESP deveria reduzir sua dependência do Sistema Cantareira, com base nos argumentos, anteriormente mencionados.

Nesses 10 anos, concluídos em agosto de 2014, somente para atender um crescimento populacional mínimo de 1% ao ano, na RMSP, a SABESP deveria ter encontrado uma ampliação de disponibilidade hídrica para mais 2,5milhões de pessoas (13 m3/segundo). Esperava-se que montante próximo tivesse sido gerado para a reclamada redução da dependência do Sistema Cantareira.

Assim sendo, a SABESP deveria ter aumentado sua oferta hídrica, para a RMSP, nos últimos 10 anos em 25 m3/segundo. O montante de aproximadamente 12 m3/segundo é exatamente a liberação que as bacias PCJ têm solicitado do Sistema Cantareira nos últimos 4 anos, no período de estiagem.

Tanto que tal valor consta da proposta do Consórcio PCJ para a Renovação da Outorga do Sistema Cantareira prevista para ocorrer esse ano, prevendo-se a liberação para as Bacias PCJ na estiagem, em 2014 o montante de 12 m3/segundo e 18 m3/segundo em 2024.

Recentemente, devido a redução de retirada de água do Sistema Cantareira, anunciada pelo Governador de São Paulo, tornou-se público que a RMSP possui várias fontes de abastecimento e que o Cantareira se enquadra entre elas, fornecendo a maior quantidade (50%), foi informado que o montante seria reposto pelas demais fontes de abastecimento.

O fato anteriormente mencionado levou a falsa impressão que a RMSP está totalmente protegida e que possui um Sistema interligado, de vários reservatórios que garante seu abastecimento em qualquer situação.

Tais reservatórios existem, mas são insuficientes para garantir o abastecimento da Grande São Paulo, principalmente em período de estiagem; existe sim, a necessidade da RMSP encontrar outras fontes de abastecimento, podendo, inclusive, retomar o Projeto dos 7 Reservatórios do Vale do Ribeira, talvez não viabilizando a construção de todos, devido a muitas ocupações que ocorreram nos últimos anos, porém, o suficiente para reduzir a dependência do Sistema Cantareira.

Tanto que, o sistema Integrado da RMSP não é sustentável, que mesmo sabendo do risco para a “Vida útil do Sistema Cantareira”, a RMSP permaneceu durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro de 2014, retirando aproximadamente 31 m3/segundo, levando os reservatórios a níveis abaixo de 20%, considerados altamente críticos.

Quanto da renovação da outorga da utilização do Sistema Cantareira, pela SABESP, prevista para vencer em agosto de 2014, conforme inclusive consta na legislação que regula o assunto e, é usual em tais processos, todas as medidas de compensação e ações afins cabem ao solicitante da outorga e não a bacia hidrográfica fornecedora da água, no caso específico Bacias PCJ.

Caso os Governos Estaduais de Minas Gerais e São Paulo e a União entendam que determinados investimentos fogem da responsabilidade da SABESP, pelo fato da mesma ser uma Concessionária de água, que os Governos mencionados assumam as obras e as ações e não que tal seja repassada para as Bacias PCJ, que já fornecem a água a ser outorgada.

As bacias PCJ estão fazendo, rigorosamente sua lição de casa, conforme mencionado anteriormente, inclusive promovendo programas de racionalização da água, apesar de ser o 3º Parque Industrial do País, com um PIB de 7% e um crescimento anual na ordem de 5% ao ano, superior a RMSP que é de 1 % ao ano. Portanto tem que receber apoio em suas necessidades e não ser penalizada.

Assessoria de Comunicação – Consórcio PCJ

Compartilhe essa matéria via:

Facebook
Twitter
LinkedIn

Newsletter

Assine a Newsletter do Consórcio PCJ e seja o primeiro a saber sobre projetos, ações de conservação e eventos importantes que acontecerão no ano. Além de notícias em primeira mão sobre todo o universo da água.

Outras matérias

21 de março de 2025

Os participantes devem se inscrever até o dia 29 de agosto O Consórcio PCJ abre nesta sexta-feira (21) as inscrições para o 9° Prêmio Ação…

21 de março de 2025

A peça de teatro “Turma do Lamba contra os Inimigos da Natureza”, idealizada pelo Consórcio PCJ como uma ferramenta de educomunicação para sensibilização ambiental, está…

19 de março de 2025

Webinar na última terça-feira (18) apresentou os preparativos para o evento que acontecerá nos Emirados Árabes, ano que vem Na manhã desta terça-feira, dia 18…

Pular para o conteúdo