Cantareira precisa de 100 dias para recuperar reserva técnica, mas estiagem começa antes
Membros do Grupo de Eventos Extremos do Consórcio PCJ, se reuniram na última quarta-feira, dia 11, na sede da entidade em Americana (SP) e discutiram ações de contingenciamento para crise hídrica e se mostraram bastante preocupados com a estiagem de 2015, que se iniciará no mês de abril. Dentre as iniciativas estudadas estão: a necessidade de desburocratização na aprovação de medidas emergenciais para a crise por parte dos órgãos fiscalizadores, socorro aos serviços de saneamento por parte dos governos estadual e federal, planos de comunicação e sensibilização da comunidade, além do armazenamento do maior volume possível de água das chuvas que devem ocorrer até o final de março.
O Sistema Cantareira não está conseguindo se recarregar com as chuvas de verão, que estão acontecendo 50% abaixo da média histórica. O Sistema opera, atualmente, com 6% da capacidade da segunda cota da reserva técnica – mais conhecida como volume morto –, acumulando um saldo negativo de 25%.
Segundo estimativas da equipe técnica do Consórcio PCJ, a permanecer o regime atual de chuvas, as vazões de afluência e as retiradas de água do Sistema, serão necessários 100 dias para recuperar todo o volume usado da reserva técnica e colocar o Cantareira, novamente, com saldo positivo no volume útil, quando a água é possível de ser captada por gravidade, sem a necessidade de bombeamento. No entanto, a estiagem se iniciará na metade desse tempo, portanto, a não recuperação da reserva técnica é um fato iminente. Em abril de 2014, entramos na estiagem com o Cantareira em 13,03% do volume útil.
Diante desse cenário mais severo para 2015, o secretário executivo do Consórcio PCJ, Francisco Lahóz, voltou a intensificar a orientação de reservação da água das poucas chuvas que estão ocorrendo para que a região possa sobreviver à estiagem que começará em abril. “Não podemos deixar essa água toda passar pela calha do rio e ir embora. Municípios, empresas e a comunidade devem reservar o máximo possível, seja por meio da construção de cisternas, bacias de retenção na agricultura, ou pequenos reservatórios”, comentou durante o encontro.
O Consórcio PCJ reiterou a importância de campanhas de conscientização da comunidade sobre a real situação hídrica, além de orientações de como realizar o armazenamento adequado de água de chuva, com o objetivo de evitar contaminações e uma epidemia de dengue no futuro. “Temos de guardar essa água, mas com todo o cuidado necessário para não criarmos um problema de saúde pública no futuro”, alertou Lahóz.
A gerente técnica do Consórcio PCJ, Andréa Borges, atentou para a necessidade de municípios e empresas se preparem imediatamente para a estiagem, pois, é muito provável que as Bacias PCJ entrarão em restrição de outorgas, conforme as regras aprovadas pela Agência Nacional de Águas (ANA), em dezembro de 2014 e em vigor desde janeiro deste ano. “É importante estar atento à sala de situação dos Comitês PCJ e acompanhar quando a região entrará em alerta e situação de restrição. Haverá fiscalização por parte do Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE) se os usuários estarão cumprindo a restrição. Durante a apresentação das regras, a ANA simulou, com as vazões de 2014, os pontos de medição na bacia e todos tiveram, no mínimo, mais de 40 dias de restrição das outorgas. Como trabalhamos com a perspectiva de estiagem mais severa em 2015, acreditamos ser inevitável que na estiagem desse ano haverá momentos de restrição. E os usuários estão se preparando para isso?”, alertou Andréa.
Os municípios e empresas presentes relataram também dificuldades na aprovação de medidas emergenciais e de contingenciamento junto a órgãos como o DAEE e a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). O secretário executivo do Consórcio PCJ relatou que o Presidente da entidade e prefeito de Indaiatuba (SP), Reinaldo Nogueira, está agendando uma reunião com o secretário de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo e que durante esse encontro o Consórcio PCJ poderia apresentar essa solicitação dos municípios e pedir mais agilidade com ações de emergência para a crise e flexibilização dessas regras.
O vice-presidente de Políticas de Recursos Hídricos do Consórcio PCJ e prefeito do município de Amparo (SP), Luis Oscar Vitali Jacob, atentou para o momento crítico que passa não somente as Bacias PCJ como também o país todo, e externou a reunião que teve com o ministro das cidades, Gilberto Kassab. “O momento é de união e diálogo entre os governos municipais, estadual e federal. O ministro Kassab nos prometeu que serão liberados recursos para a crise hídrica”, disse Jacob.