Era dezembro de 2013, mais especificamente dia 19 de dezembro, quando o Consórcio PCJ, atento à situação hídrica no sudeste brasileiro, emitiu o primeiro alerta sobre a possibilidade de caos na disponibilidade de água no Sistema Cantareira e no abastecimento tanto na capital como no interior do Estado de São Paulo. De lá para cá passamos por dois anos de forte restrição ao consumo e com adoção de novas práticas no trato com água, tanto pela população como pelos gestores. Mas, afinal, o que de fato a crise hídrica nos ensinou e o que temos de melhorar para o futuro?
Os dois últimos anos mostraram que o planejamento e o investimento realizado nas Bacias PCJ, se não foi o ideal, foi suficiente para não causar o caos vislumbrado, permitindo aos municípios um mínimo de captação para prover ao abastecimento público.
O Consórcio PCJ, nesse sentido, não desamparou os municípios e as empresas. A entidade se transformou numa incubadora de ideias pioneiras e passou a buscar soluções em diferentes partes do país e do globo. Do Nordeste, trouxemos a experiência da partilha dos recursos hídricos, com a “Alocação Negociada da Água” entre o interior do Ceará e a capital Fortaleza. O Consórcio redigiu várias recomendações de contingenciamento, como os “Mandamentos da Estiagem”, o “Manifesto Salvem o Cantareira – Água para Todos” e os “10 Mandamentos para a proteção de nascentes”.
A entidade, também, realizou mapeamento de novas fontes de abastecimento, inclusive com o cadastramento de cavas de mineração com armazenamento de água, que pudesse ser usada para o abastecimento público emergencial, como fizeram alguns municípios da bacia. O Consórcio PCJ buscou novos parceiros internacionais, por meio de contato com os consulados de Israel e dos Estados Unidos, o que culminou com a rodada de negócios com empresas israelenses na cidade de Indaiatuba (SP), em março de 2015, e sete meses depois a visita à WATEC, uma das maiores feiras de gestão de água no mundo, realizada em Tel Aviv.
Após dois anos da estiagem mais severa dos últimos 90 anos, a partir do final de 2015, as chuvas voltaram junto com a ocorrência climática do El Niño, que aquece as águas do Oceano Pacífico, causando chuvas acima da média nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Esse fenômeno permitiu o aumento das vazões dos rios, até mesmo com a ocorrência de transbordos em várias localidades, e o início da recarga do lençol freático, além da recarga dos reservatórios do Sistema Cantareira, que voltaram a operar em 34% do volume útil, mesmo patamar de quando o Consórcio PCJ emitiu o alerta da crise, em dezembro de 2013.
As chuvas devem ser comemoradas, mas com uma pitada de apreensão. Pesquisadores alertam para a possibilidade de acontecer o fenômeno reverso do El Niño, a La Niña, que deve diminuir as chuvas na Região Sul e Sudeste.
Esse, talvez, seja o maior desafio para a gestão futura da água: adequar-se para enfrentar a ocorrência de eventos hidrológicos extremos, com a intensificação dos fenômenos El Niño e La Niña. A gestão dos recursos hídricos deverá transitar entre esses dois extremos para garantir o abastecimento, público, rural e industrial. Nas Bacias PCJ, vimos o Rio Piracicaba atingir 5 m³/s, no ápice da crise, e agora recentemente passar de 500 m³/s, um exemplo nítido e visível para a comunidade dos novos tempos pelos quais passamos.
Novas regras operativas, atualização dos procedimentos realizados até então, deverão levar em conta o recado da Mãe Natureza sobre nosso estilo de vida e nosso trato com o meio ambiente, sobretudo, com a água. Um novo valor da água passou a imperar na nossa sociedade após 2013, que vai muito além do valor financeiro mensurado nas contas de água. Sem água perdemos qualidade de vida, emprego, além de comprometer o desenvolvimento econômico e social de nosso país, porque água é vida, água é saúde, água é desenvolvimento.
Investir em água, é investir na qualidade de vida que queremos para nosso país. E isso o Consórcio PCJ vem salientando há mais de 26 anos e continuaremos sensibilizando esse assunto à comunidade ao lado dos nossos municípios e empresas associados também engajados num futuro mais sustentável e com a água devidamente valorizada.