Chuvas nas Bacias PCJ já somam mais de 80% da média histórica de fevereiro

Desafios na gestão de resíduos, necessidade de ampliação do armazenamento de água e a falta de sensibilização da comunidade agravam impactos dos eventos extremos

A ocorrência de eventos hidrológicos extremos nesse início de 2020, como as fortes chuvas em Minas Gerais no mês de janeiro e as intensas precipitações nesse começo de fevereiro em São Paulo, demonstram a necessidade de melhorar a resiliência das cidades frente a essas situações. O tripé, gestão de resíduos, armazenamento de água e sensibilização, estão cada vez mais impactando a comunidade quando tempestades acontecem, prejudicando o dia a dia da população e a disponibilidade hídrica. Em apenas 10 dias já choveu nas Bacias PCJ mais de 80% do esperado para o mês todo de fevereiro, sendo 113mm quando a média histórica é de 130mm.

O Consórcio PCJ intensificou na última década a divulgação da ocorrência desse fenômeno climático e o seu impacto para a gestão de recursos hídricos. A mudança nas precipitações de chuvas é nítida. Chove-se concentradamente em curtos períodos, o que causa danos aos centros urbanos devido à má gestão de resíduos e a impermeabilidade do solo, ao mesmo tempo que não permite a recarga do lençol freático para manter o equilíbrio hídrico em períodos secos.

Para se ter ideia em Indaiatuba (SP), nas Bacias PCJ, neste mês de fevereiro choveu em um único dia 101,9 mm, quando a média para o mês todo é de 129,5 mm. Outro exemplo que tem causado muita comoção é o caso de Belo Horizonte (MG), que acumulou mais de 900 mm de chuvas em janeiro de 2020, o que representa mais de 60% do esperado para o ano todo. Em São Paulo, que nessa segunda-feira (10) sofre com o temporal que cai desde a madrugada, choveu 50% do esperado para o mês todo. “Choveu em São Paulo 113 milímetros até agora [por volta das 9h], quase metade da média de 250 milímetros para o mês”, informou meteorologista Marcelo Schneider, do Inmet, ao portal de notícias UOL.

“A água da chuva ao penetrar no solo alimenta o aquífero e, consequentemente, mantém a vazão regular dos rios nos períodos mais secos. No entanto, chuvas intensas e rápidas não contribuem para isso, uma vez que a água não penetra no solo e vai diretamente para o rio”, afirma o coordenador de projetos do Consórcio PCJ, José Cezar Saad, também responsável pelo Programa de Saneamento e Resíduos da entidade.

Gestão de resíduos e a responsabilidade da população

Tempestades com grandes volumes de precipitações tem seu poder destrutivo ampliado devido aos desafios da gestão de resíduos nos centros urbanos. A coleta seletiva ainda não é realizada em todas as cidades, enquanto a produção de lixo aumenta ano após ano. Some-se a isso a falta de sensibilização da comunidade sobre a destinação correta dos resíduos.

O lixo mal gerido acaba indo parar em bocas de lobo nas ruas, entupindo-as e agravando ainda mais as enchentes durante o pico de cheia numa tempestade. “As pessoas não têm pensamento crítico de que o lixo jogado nas ruas segue diretamente para os rios, contaminando-os. Por isso é tão importante investir em educação ambiental para que as pessoas conheçam o impacto de suas ações no mundo”, atenta a gerente técnica do Consórcio PCJ e coordenadora do Programa de Educação Ambiental do Consórcio PCJ, Andréa Borges.

Segundo o Consórcio Intermunicipal De Manejo De Resíduos Sólidos Da Região Metropolitana De Campinas (Consimares), a região gera 742 toneladas de lixo por dia, somando 22.260 toneladas ao mês. Quando se trata de Brasil, o país gera em média por ano 79 milhões de toneladas de resíduos, segundo estudo do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2018/2019, realizado pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). O levantamento ainda aponta a tendência de crescimento na produção de resíduos que alcançará uma geração anual no país de 100 milhões de toneladas por volta de 2030.

Durante o ano de 2020, o Projeto Gota d’Água da entidade irá trabalhar com os alunos de escolas públicas das Bacias PCJ os “Objetivos do Desenvolvimento Sustentável” (ODS), propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU), dentre os quais a gestão de resíduos e os impactos de eventos climáticos extremos são uma das pautas.

Piscinões Ecológicos e Bacias de Retenção amenizam impactos de eventos extremos

Finalizando a terceira ponta do tripé dos impactos de eventos extremos à gestão de recursos hídricos encontra-se a necessidade de ampliação de reservação de água para atenuar os picos de cheias, por meio de piscinões ecológicos em áreas urbanas, bacias de retenção na zona rural e a construção de reservatórios de água bruta, que funcionariam para abastecimento ao mesmo tempo como contenção de cheias.

“Fortes chuvas como as que temos verificado nos últimos anos exigem que os gestores ampliem a capacidade de reserva dessa água para controlarmos o fluxo das vazões nos rios, ao mesmo tempo que ampliamos a capacidade de recarga do lençol freático. Se não há recursos para a construção de reservatórios de água bruta, os piscinões ecológicos e as bacias de retenção são opções baratas que amenizam os impactos dessas ocorrências climáticas à comunidade e à disponibilidade hídrica”, atenta o secretário executivo do Consórcio PCJ, Francisco Lahóz.

Segundo Jorge Belix da Associação Mata Ciliar, a implantação de bacias de retenção em parceria com empresas como a Petrobras e TetraPak permitiu que a iniciativa chegasse a 18 municípios das regiões Bragantina e Circuito das Águas Paulista. “Nos últimos anos ao lado de parceiros implantamos mais de 1.500 bacias”, atenta.

Limeira (SP) é outro bom exemplo, com mais de 1.000 bacias de retenção executadas. A cidade também possui um piscinão ecológico em parceria com o Consórcio PCJ, que funciona como área demonstrativa para outros municípios, além de atenuar os picos de cheia no bairro Residencial Roland.

O Consórcio PCJ possui cartilha sobre a construção de reservatórios municipais e orientações para implantação de piscinões ecológicos e bacias de retenção que podem ser solicitados pelo e-mail agua@agua.org.br. Um curso sobre o tema está em processo de produção e estará disponível até o final de fevereiro no site da Escola da Água, em www.escola.agua.org.br.

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