Alianças Mundiais pela Água e o Clima destacam os riscos para a gestão de recursos Hídricos durante a COP23

As Alianças Mundiais pela Água e o Clima organizaram no dia 10 de novembro, durante a  23ª sessão da Conferência das Partes (COP 23), que ocorreu na cidade de Bonn, na Alemanha, a “Jornada Oficial de Ação pela Água e o Clima”, na qual foi destacado que a primeira vítima das mudanças climáticas é a disponibilidade de água doce no planeta.

Nos debates foi destacado que os recursos de água doce estão sendo diretamente mais afetados a cada ano em decorrência do aumento de intensidade de precipitações, de inundações ou de secas, ocasionados pelo fortalecimento dos eventos meteorológicos e hidrológicos extremos.

Também são reflexos desses acontecimentos, a desregulação das vazões dos rios a jusante de montanhas devido ao desgelo e redução do manto de neve em seus picos, uma maior erosão causada pela modificação de espécies nativas em matas ciliares. Ainda foi destacada a mudança no fluxo de desembocadura dos rios, assim como a introdução de sal em zonas costeiras e em aquíferos nessa região, devido ao aumento no nível do mar.

Os participantes da jornada pontuaram ainda que as mudanças climáticas estão acarretando uma maior prevalência de doenças de origem hídrica e a chegada de espécies invasoras aos ecossistemas, causado especialmente pelo aumento da temperatura das águas superficiais.

O evento destacou que é possível que ocorram consequências demográficas, econômicas e ecológicas muito sérias o que exige uma mobilização mundial para preparar rapidamente planos de contingenciamento e de adaptação a esses fenômenos em cada bacia hidrográfica, levando-se em conta as águas superficiais e subterrâneas.

Regiões com grande concentração de pessoas e forte atividade econômica estarão seriamente ameaçadas, com risco de migração de pessoas, sobretudo em regiões rurais.

Esses eventos são agravados por fortes pressões relacionadas com o crescimento da população, urbanização e desenvolvimento. Segundo as Alinças, o aquecimento global é um multiplicador de ameaças, com agravamento das situações difíceis e aumenta a tensão, inclusive em regiões consideradas estáveis.

Em 93% das Contribuições Nacionais (INDC na sigla em inglês), os países identificaram a água como prioridade para a adaptação aos fenômenos climáticos. O INDC registra os principais compromissos e contribuições de cada nação no acordo climático firmado em Paris, na COP21.

Tendo em conta que a água é fundamental para a saúde humana, a segurança alimentar, a produção de energia, a produção industrial, o turismo, a navegação fluvial, a biodiversidade, além de primordial para as necessidades humanas básicas, portanto, assegurar os recursos hídricos é o mesmo que garantir a segurança em todas essas áreas de desenvolvimento econômico, social e ambiental. A adaptação às mudanças climáticas é uma das condições para se alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para 2030.

Com base nessas discussões as Alianças pela Água e o Clima apontaram algumas ações que devem ser implantadas imediatamente, tendo como objetivo a adaptação aos eventos extremos gerados pelas mudanças climáticas. Entre as sugestões formuladas pode-se destacar que:

  • É necessária a gestão integrada dos recursos hídricos, organizada por bacias costeiras, nacionais ou transfronteriças de rios, lagos ou aquíferos, porque a cooperação regional e transfronteriça é crucial e deve aumentar quando os recursos hídricos superficiais e subterrâneos são compartilhados por vários países.
  • Em cada país e em cada bacia hidrográfica, melhorar a organização e apuração, conservação, intercâmbios e difusão de dados dentro de Sistemas Integrados de Informação sobre a Água e assegurar sua coleta de informação a longo prazo, tendo em conta as mudanças climáticas, porque não saberemos gerenciar aquilo que não podemos medir, e a demora nesse âmbito pode ser crucial: os sistemas de alerta rápido para inundações e secas devem ser fortalecidos e desenvolvidos em regiões que se façam necessários.
  • A gestão da água deve ser organizada de forma Intersetorial e envolver as autoridades locais, como municípios, setores econômicos, especialmente a agricultura e a energia, e toda a sociedade civil. Deve-se promover a participação de todos os atores envolvidos nas tomadas de decisões de gestão e desenvolvimento de projetos de campo. Desse ponto de vista, as Alianças criadas entre bacias, cidades e empresas permitem uma melhor mobilização entre os participantes, uma visão compartilhada dos desafios e soluções, e difusão cruzada de boas práticas e disponibilizadas como forma de apoio.
  • As soluções baseadas na natureza oferecem múltiplos benefícios. Essas iniciativas têm demonstrado sua eficácia junto com a infraestrutura tradicional e contribuem para reduzir os custos de ação:  é necessário promover o desenvolvimento da “engenharia ecológica”. Nesse sentido, durante a COP23, foi lançada a assinatura de uma declaração para apoiar a integração do uso dessas soluções baseadas na natureza na “Agenda da Associação de Marraquexe para Ação Climática Global”, que já reuniu 70 assinaturas de associações internacionais envolvidas.
  • Os governos e a comunidade internacional devem assegurar mobilização mais fácil de fundos essenciais para a implementação de ações urgentes para adaptar a água ao clima. O sucesso dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para 2030 e a implementação do Acordo de Paris exigem a aceleração de investimentos no setor de água, provenientes de todas as fontes de recursos. Os financiamentos, que devem ser simplificados, não necessitam somente apoiar projetos em infraestrutura, mas também melhorar as pesquisas sobre os impactos das mudanças climáticas aos recursos hídricos, além de promover o desenvolvimento de habilidades, a governança, a capacitação, a cultura da água, o monitoramento e avaliação de políticas ou o uso de soluções baseadas na natureza. Formas de incubação de projetos para facilitar seu financiamento por diversos Fundos Climáticos,  pareceram muito úteis diante das experiências atuais.

O próximo Fórum Mundial da Água, que acontecerá em Brasília, será a ocasião para uma nova mobilização nesse aspecto.

Sobre as Alianças da Água e o Clima

Criadas durante a COP22, em Marraquexe, no Marrocos, em 2016, as Alianças Mundiais pela Água e o Clima, reúnem quatro associações: Aliança das Bacias Hidrográficas (Pacto de Paris), coordenada pela Rede Internacional de Organismos de Bacias (RIOC); Aliança Empresarial para a Água e as Mudanças Climáticas, que reúne 65 corporações, sendo 43 empresas líderes; Aliança de Megalópoles para a Água e o Clima, que reúne 16 grandes cidades das quais todas juntas somam 300 milhões de habitantes; e a Aliança Mundial de Dessalinização da água limpa, que conglomera dezenas de empresas e instituições de pesquisa neste âmbito.

Hoje, as quatro Alianças possuem 450 organizações do mundo todo, que se comprometeram em mobilizar seus associados, identificar e difundir boas práticas e apoiar o desenvolvimento de novos projetos por atores envolvidos na adaptação às mudanças climáticas, promovendo maior resiliência do setor de água doce continental.

O Consórcio PCJ é um dos signatários da Aliança das Bacias Hidrográficas, coordenado pela RIOB. A entidade ratificou sua assinatura em apoio à criação das Alianças Mundiais pela Água e o Clima, na COP22. O Consórcio PCJ, atento às orientações dos organismos internacionais sobre os riscos à gestão da água devido a ocorrência de eventos climáticos extremos elaborou em 2016, as 22 Metas da Sustentabilidade Hídrica Futura e em 2017 realizou dois encontros internacionais e um nacional para debater planos de contingenciamento e adaptação às mudanças climáticas na gestão de recursos hídricos.

Para ter acesso a mais informações sobre as Alianças, acesse o site: www.water-climate-alliances.org.

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