“Era do nosso interesse devolver à mãe natureza o que era dela, por isso, de muito bom gosto, iniciamos esse trabalho pioneiro com o Consórcio PCJ”. A afirmação, que não esconde o orgulho de fazer parte do Programa de Proteção aos Mananciais (PPM), é de Maria Christina Clemencio Gonzaga Pacheco, proprietária da Fazenda Milhã, em Capivari (SP), escolhida para ser projeto piloto do reflorestamento da mata ciliar da microbacia do Ribeirão Forquilha, há 30 anos.
Presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Capivari (Assocap), ela conta que o programa teve início com a assinatura de um acordo firmado entre a Prefeitura e o Consórcio PCJ. O Forquilha, na época, era responsável por cerca de 50% do abastecimento de água da cidade. “O projeto foi implantado em todas as propriedades na beira do córrego, mas iniciado na minha fazenda, que fica às margens da represa Milhã. Por muitos e muitos anos, enquanto enchia a represa, a gente só via árvores e mais árvores morrendo, então era do nosso interesse devolver para a mãe natureza o que era dela”, afirma.
Aprendizado e consciência
O projeto-piloto visava restaurar toda a microbacia do Forquilha, que somava 28 proprietários. A primeira etapa do plantio foi feita na fazenda de Christina. “Na segunda etapa houve um trabalho de conversa e convencimento dos outros proprietários para aderirem ao PPM. O Ministério Público também fez sua parte, visto que, como represa abastece a cidade, havia um grande interesse público para que o reflorestamento fosse feito”, lembra.
Carlos Schincariol, engenheiro agrônomo e consultor ambiental do projeto-piloto, foi o responsável por supervisionar a área, para atestar quais proprietários tinham plantado as mudas e feito sua manutenção. “Os relatórios foram encaminhados ao MP Capivari [Ministério Público], que abriu uma ação civil pública contra quem não havia aderido ao projeto. Assim, por força da lei eles aderiram ao programa, e todo mundo passou a plantar e a recuperar seus mananciais”, destaca.
Trabalho constante
O Consórcio PCJ acompanhou o trabalho de produção das mudas no viveiro municipal e do plantio, elaborando projetos aos proprietários. Segundo Schincariol, foram plantadas cerca de 120 mil mudas para a recuperação do Forquilha. De acordo com Christina, como em todo projeto pioneiro, havia dificuldades, que foram superadas com mais conhecimento sobre reflorestamento. “Não havia o conhecimento que temos hoje sobre mata ciliar. Muitos não tinham noção do que é reflorestar, porque plantar é simples, o difícil é manter e fazer com que aquilo vire uma floresta”, observa. “Em épocas de seca, por exemplo, para não perder as mudas, cheguei a trazer o caminhão-pipa para molhar planta por planta”.
Christina afirma que a consciência sobre a importância do reflorestamento está bem presente nos proprietários da região. Após a recuperação das margens do Forquilha, foi feito o mesmo trabalho com a microbacia do ribeirão Água Choca, onde foram plantadas 200 mil mudas. “Conseguimos reflorestar os dois mananciais da cidade e hoje existem outras propriedades que estão trabalhando nisso para o futuro, além de usinas que entraram no projeto. A consciência é maior do que há 30 anos, mas ainda há muito trabalho a ser feito”, conclui.