Escassez de água será a próxima pandemia diz ONU

Previsão reforça alertas do Consórcio PCJ sobre a disponibilidade hídrica

No mês de junho foi publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) alerta contendo a previsão da próxima pandemia global: a escassez de água, para a qual não há vacina. África, Américas Central e do Sul, região central da Ásia, sul da Europa, e porções da Austrália e dos Estados Unidos terão secas mais severas, segundo a ONU. O documento intensifica a necessidade de campanhas de sensibilização da população, dos gestores públicos, tomadores de decisão e autoridades internacionais para evitar que essa previsão se torne realidade num futuro próximo, iniciativas essas, que já vem sendo alertadas pelo Consórcio PCJ desde a sua fundação, em 1989.

Cerca de 130 países poderão atravessar a maior seca do século, enquanto outros 23 sofrerão com a falta de água devido ao crescimento populacional; e 38 nações serão prejudicadas por ambos os motivos. De acordo com a ONU, entre os anos de 1998 e 2017, os problemas ocasionados pela escassez de água atingiram 1,5 bilhão de pessoas ao redor do mundo, gerando uma perda econômica de US$124 bilhões.

Essa redução da disponibilidade hídrica é explicada pelo professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Antônio Carlos Zuffo, como um dos efeitos da diminuição das precipitações de chuvas verificadas ao longo dos últimos anos. “Quanto menor a incidência das chuvas, menores será o escoamento de água superficial, impactando significativamente na sustentação de vazões dos rios e mananciais”, atenta.

Zuffo aponta formas de ampliar a resiliência de cidades para que não sofram com eventos climáticos extremos, como a construção de reservatórios, combate às perdas físicas nos sistemas de distribuição de águas, plantios de matas ciliares, entre outras soluções de infraestrutura verde baseadas na natureza, que ampliam a segurança hídrica.

O professor da Unicamp diz também que, pela observância do ciclo hidrológico e manutenção da quantidade de água na Terra por meio de seus estados físicos, o bom planejamento e o uso adequado dos recursos hídricos serão os grandes desafios a serem enfrentados pela humanidade e não a “falta de água” propriamente dita. Desta forma, a governança sobre este tema é fundamental.

O Observatório de Governança das Águas (OGA), constituído por 61 instituições, construiu o Protocolo de Monitoramento da Governança das Águas, o qual tem sido apresentado aos organismos de bacias. “A partir desse monitoramento será possível identificar as lacunas de governança, identificando-as e propondo planos de ação para resolvê-las. Desta forma podemos ter ainda mais resultados na gestão de águas”, explica o secretário executivo do OGA, Ângelo Lima.

Desde a década de 1980, o consumo global de água vem aumentando 1% ao ano. De acordo com secretário executivo do OGA, se a sociedade caminhar neste ritmo de crescimento populacional, concentrada em locais marcados por condições adversas, a água tende a se tornar cada vez mais escassa. “Por mais que o planeta esteja cercado por este recurso, apenas uma fração do total é própria para o consumo”, pontua Lima.

Segundo o Secretário Executivo do Consórcio PCJ, Francisco Lahóz, o início da história do Consórcio está diretamente ligado a motivação e organização regional em prol do combate a escassez de água. Essa atuação permitiu a criação de um eficiente sistema de gestão que trouxe avanços significativos aos indicadores de saneamento e recursos hídricos que ampliaram a resiliência da região mesmo diante dos eventos de estiagem.

“Através do planejamento, fomento e sensibilização o Consórcio PCJ constituiu um eficiente arcabouço legal e institucional para a governança e governabilidade dos temas e ações voltados ao gerenciamento dos recursos hídricos, ampliando o debate e a participação regional em discussões preventivas e estratégicas sobre a água, permitindo antecipar-se a crises de escassez hídrica”, atenta Lahóz.

Exemplo disso foi o alerta emitido do Consórcio PCJ, em dezembro de 2013 sobre a possibilidade eminente de uma crise hídrica tão intensa que poderia exaurir o volume útil do Sistema Cantareira, considerado o primeiro aviso sério sobre a pior crise hídrica do Estado de São Paulo, ocorrida em 2014/2015. “O Consórcio antevendo já em 2013 que o Sistema Cantareira estava com sua capacidade muito baixa, saiu na frente e contratou estudo sobre sua disponibilidade hídrica e capacidade em atender as vazões estabelecidas na época, para abastecimento das demandas das Bacias PCJ e Alto Tietê. Esses estudos foram muito importantes pois as previsões se concretizaram com a confirmação da pior crise hídrica dos últimos 90 anos. Esse documento permitiu que importantes tomadas de decisão fossem realizadas na renovação da outorga do Cantareira, em 2017.” atenta Lahóz.

O alerta publicado pela ONU reforça que infelizmente as chuvas têm se comportado de forma irregular em várias regiões do planeta, podendo afetar diversos países. A incidência cada vez mais frequente desses eventos climáticos extremos já é uma realidade na região das Bacias PCJ e reflete diretamente no comportamento dos mananciais. Longos períodos de estiagem seguidos por períodos de chuva cada vez mais volumosos e concentrados em curto espaço de tempo geram desequilíbrios que dificultam a recarga do lençol freático, e por consequência, e resiliência dos mananciais e reservatórios.

Segundo o Secretário Executivo dos Comitês PCJ, André Navarro, o alerta da ONU deve ser recebido como uma direção para que as entidades saibam atuar na gestão de seus recursos hídricos. Em contraponto, foi visto pelo secretário a questão de como este sinal pode realçar os cuidados com finalidade de prevenir que isso ocorra. “O alerta nos mostra que precisamos avançar ainda mais nesse sentido, buscando ainda mais articulação e integração entre regulação e uso, e alternativas tecnológicas voltadas ao aprimoramento dos instrumentos de gestão de recursos hídricos implantados em nosso território”, pontua Navarro sobre a relação entre a previsão da ONU e os cuidados com as Bacias PCJ.

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