Águas subterrâneas e a sua ligação com o saneamento básico

Você sabe o que são as águas subterrâneas? São aquelas que se encontram sob a superfície terrestre formando os aquíferos, e são essenciais para garantir a segurança hídrica, já que 97% das reservas de água doce e líquida do planeta estão armazenadas nos aquíferos.

As águas subterrâneas se formam através do ciclo hidrológico, que envolve a movimentação constante da água na Terra através dos estados líquido, sólido e gasoso. Esse ciclo começa com a evaporação da água dos oceanos, rios, lagos e solos pelo calor do sol, formando vapor d’água que se junta para formar nuvens. Essas nuvens, sob certas condições atmosféricas, condensam-se e precipitam-se na forma de chuva, granizo ou neve.

Quando chove, parte da água é retida pela vegetação e evapora novamente para a atmosfera, enquanto outra parte flui diretamente para rios, lagos, eventualmente retornando aos oceanos ou infiltrando-se no solo. Uma porção dessa água infiltra-se nas camadas mais profundas do solo até atingir a zona de saturação, onde todos os poros e fissuras das rochas são preenchidos com água, formando as águas subterrâneas.

As águas subterrâneas abastecem áreas urbanas e rurais e são essenciais para diversas atividades econômicas, como também sustentam uma variedade de ecossistemas. Sem elas, as florestas em regiões de clima seco ou tropical não conseguiriam sobreviver e os ecossistemas aquáticos não poderiam existir ou desempenhar suas funções ambientais.

Diferentemente das águas superficiais, as águas subterrâneas não são facilmente visíveis, o que dificulta sua gestão e torna mais desafiador avaliar sua condição e desenvolver políticas públicas direcionadas. A falta de compreensão sobre sua importância e as medidas necessárias para sua preservação torna os aquíferos mais suscetíveis à contaminação e ao uso inadequado.

A importância das águas subterrâneas

A ausência de águas subterrâneas resultaria em um planeta significativamente mais seco e com uma biodiversidade reduzida. Durante períodos de seca, rios, represas, dentre outros corpos d’água, podem secar devido à falta de chuvas, mas sua continuidade é garantida pela água dos aquíferos. 

A água subterrânea é o recurso natural mais extraído do subsolo brasileiro. A quantidade total de água bombeada ultrapassa um volume suficiente para suprir a demanda anual da população do Brasil ou abastecer 10 regiões metropolitanas do tamanho de São Paulo.

Muitas atividades econômicas em todo o país dependem das águas subterrâneas para atender às suas necessidades, como os setores doméstico que utilizam 30%, agropecuário 24%, abastecimento público urbano 18%, e abastecimento múltiplo 14%. De acordo com dados da Agência Nacional de Águas (ANA), 52% dos municípios brasileiros são abastecidos totalmente (36%) ou parcialmente (16%) por águas subterrâneas.

As águas subterrâneas vêm atendendo às populações em áreas rurais e as socialmente mais vulneráveis e pobres no país, que não têm acesso a redes públicas de abastecimento de água. Porém, é preciso tomar alguns cuidados, pois, embora não estejam expostas, águas subterrâneas estão sujeitas a contaminação por vírus, bactérias e impurezas, que podem ser portadores de diversas doenças.

O impacto da falta de saneamento básico

Em áreas onde há falta de cursos d’água suficientes para o abastecimento, as águas subterrâneas podem ser uma fonte alternativa ou até mesmo essencial para a segurança hídrica local. No entanto, é necessário avaliação se há disponibilidade hídrica que permita a exploração dessa fonte subterrânea, como também se ela não está contaminada.

Com o aumento da urbanização e da intensificação das atividades humanas, tem havido um crescimento nos relatos de contaminação de aquíferos e águas subterrâneas. Essas contaminações geralmente resultam do armazenamento de produtos perigosos, da deposição de resíduos sólidos ou do descarte de esgoto industrial.

A ausência de saneamento básico, especialmente de sistemas de coleta e tratamento de esgoto, resulta no contínuo despejo de esgoto em fossas sépticas, fossas negras e sumidouros, tanto a céu aberto quanto em corpos d’água superficiais, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Cerca de 33 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável e 100 milhões não têm acesso à coleta de esgoto, aponta a Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon). A falta ou as condições precárias desses sistemas de esgoto, devido a falhas no planejamento e na manutenção, são as principais fontes de degradação ambiental dos aquíferos, e são responsáveis pela maioria dos casos de contaminação em volume e área no Brasil.

Em locais com uma grande quantidade de pessoas vivendo em uma área relativamente pequena, como favelas, o problema se torna mais evidente e preocupante, pois a falta de acesso à água encanada leva os moradores a recorrerem às águas subterrâneas por meio de poços escavados, os quais frequentemente são contaminados pelos resíduos das fossas negras e sépticas mal gerenciadas, instaladas nas proximidades.

Como mencionado, a falta de acesso a serviços adequados de saneamento, o manejo inadequado de resíduos e a poluição exercem efeitos nocivos sobre as águas subterrâneas, aumentando os riscos de contaminação e comprometendo a saúde pública. Investir em conscientização e medidas específicas para proteger e preservar esses recursos hídricos é essencial para garantir o acesso à água potável e para promover a saúde e o bem-estar das comunidades.

Mariane Leme

Engenheira Ambiental e assistente técnica do Consórcio PCJ

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