Chuvas estão ficando muito abaixo da média histórica e impactando vazões dos rios das Bacias PCJ que estão com queda de 50% do volume normal para o período
O Consórcio PCJ liberou na última semana o Ofício 149/2025 com orientações de contingenciamento da Estiagem 2025, diante dos dados sobre chuvas e vazões dos rios das Bacias PCJ que estão com índices muito abaixo para o período. Os Boletins Hidrológicos da entidade vêm mostrando uma tendência de significativa redução dos percentuais de chuvas nas Bacias PCJ e consequente agravamento da estiagem principalmente nos últimos 3 meses de 2025 (junho, julho e agosto). No mês de agosto, as precipitações apresentaram queda de 90,2%, causando impactos aos rios da região que ficaram com vazões 50,3% menores do que prevê as médias históricas. O novo Boletim Hidrológico foi liberado nessa segunda-feira (08), com os dados mais recentes, e pode ser acessado pelo link: Boletim Hidrológico – Dados de Agosto de 2025.
Levantamento do Consórcio PCJ, mostra que as precipitações de chuva e vazões dos rios apresentaram volumes dentro ou acima da média apenas uma vez em 2025, no mês de abril. Antes disso, apenas em novembro de 2024 as chuvas e vazões dos rios tiveram índices dentro do esperado.
Segundo o Boletim Hidrológico do Consórcio PCJ, está aumentando as chances de ocorrência do fenômeno La Niña no final do segundo semestre de 2025, que deve superar a neutralidade em outubro/novembro, de acordo com os modelos climáticos da Organização Meteorológica Mundial (OMM). A ocorrência desse fenômeno favorece para a ocorrência de um cenário de chuvas abaixo ou próximas da média histórica na região.
Outro ponto de atenção, é a gradual redução dos níveis de água do Sistema Cantareira, importante complexo de reservatórios responsável pelo abastecimento das Bacias PCJ e da Grande São Paulo, que atingiu volumes abaixo dos 40% em agosto de 2025, o que determinou a entrada na faixa de operação Alerta (Faixa 3 – 30% ≤ Vol < 40%), em setembro de 2025, sendo que o volume de água atual reservada do Sistema está com 32,8%.
Ainda assim, os municípios que fazem captação de água em rios atendidos pelas vazões adicionais do Sistema Cantareira devem atravessar o período seco de 2025 sem grandes intercorrências. A questão é mais preocupante com as cidades que captam em mananciais não atendidos pelo Cantareira, que estão na dependência de captações a fio d’água local e, consequentemente, são mais vulneráveis à ocorrência dos eventos climáticos extremos, como as estiagens mais intensas.
Há um ano, pesquisador da Unicamp alertava para possibilidade de seca severa
Durante a realização da Reunião Plenária do Consórcio PCJ, em 26 de setembro de 2024, o professor da Universidade de Campinas (Unicamp), Antônio Carlos Zuffo apresentou cenários e comportamentos hídricos no Estado de São Paulo e nas Bacias PCJ, no qual se constata a intercorrência de crises hídricas a cada 11 anos, portanto, segundo ele, a região estaria próxima de um novo evento hidrológico extremo, que deverá ocorrer entre 2025 e 2027.
Esse comportamento climático é chamado de Ciclo de Schwabe e prevê a ocorrência de crises entre oito e 13 anos, com média de 11. Segundo o professor da Unicamp, ocorreram crises hídricas no Estado de São Paulo em 1992, 2003, 2014/15, respeitando esse modelo de intervalo, o que leva a crer, pelo levantamento do Prof.º Zuffo, que ao final de 2025 haveria grandes chances de termos um evento extremo como o verificado em 2014.
Ainda é cedo para comparar a estiagem de 2025 à crise vivida há 10 anos atrás, mas o momento exige atenção por parte dos gestores municipais com intensificação de campanhas sobre o uso consciente e sustentável da água.
Consórcio PCJ e a Operação Estiagem 365
Diante do agravamento da seca em 2025, o Consórcio PCJ tem mantido recomendações e apoio técnico aos municípios e empresas associados por meio da Operação Estiagem 365, com o objetivo de garantir a disponibilidade hídrica, mesmo com a redução das precipitações. O documento possui recomendações de ações divididas em três graus de criticidade de atendimento do abastecimento de água: baixa dificuldade no atendimento de água ou fase verde, média dificuldade ou fase amarela, e alta dificuldade ou fase vermelha. Em cada uma das fases medidas são recomendadas ações para amenizar os impactos à população e evitar uma possível interrupção do serviço de abastecimento.
Para o Secretário Executivo do Consórcio PCJ, Francisco Lahóz, o momento é de cautela. Ele recomenda que municípios, empresas e sociedade se preparem para uma possível intensificação da estiagem para que se possa criar uma reserva estratégica de água para 2026. “Temos de sobreviver à estiagem atual, mas também precisamos pensar nas reservas para o próximo ano, portanto, o uso sustentável de água é fundamental pensando nessa “poupança hídrica” que teremos de criar para o caso de agravamento da estiagem de 2026, com impactos à disponibilidade hídrica”, pondera.
As fases de contingenciamento da estiagem indicadas pelo Consórcio PCJ, seguem as seguintes diretrizes:
Fase Verde ou Baixa Dificuldade no Atendimento de Água:
1 – Identificação de pontos críticos de insegurança hídrica em áreas urbanas e rurais para planejamento e implantação de medidas de contingência o quanto antes possível;
2 – Capacitação de seus funcionários em cursos, seminários e webinars voltados para soluções alternativas e inovadoras que promovam melhoria no sistema de abastecimento e aumento da segurança hídrica;
3 – Avaliação das demandas mensais de consumo de água e elaboração de mapeamento e previsões das capacidades de disponibilidade hídrica existentes nos reservatórios municipais;
4 – Campanhas de sensibilização e conscientização junto à população sobre a problemática dos recursos hídricos em nossa região e incentivos a ações de educação ambiental para uso sustentável da água;
5 – Campanhas de Incentivo a ações de reuso de água, por meio do aproveitamento de água pluvial para atividades menos nobres e lavagem a seco de veículos e calçadas;
6 – Fomentar práticas de contingenciamento dos eventos extremos relacionadas às ações de infraestrutura verde, tais como a implantação de piscinões ecológicos em áreas urbanas e bacias de retenção e curvas de nível em áreas rurais, favorecendo a infiltração da água no solo e, consequentemente, a recarga do lençol freático e manutenção das nascentes;
7 – Promoção e fomento, junto a produtores rurais, para que construam cacimbas, cisternas e reservatórios em solo escavado, com impermeabilização e cobertura para armazenar e evitar a evaporação das águas de chuvas que venham a ocorrer nesse período.
8 – Incentivo a implantação de novas tecnologias mais eficientes no consumo de água, como o gotejamento na agricultura, o reuso na indústria, e tecnologias inteligentes e sustentáveis em escolas e prédios públicos (torneiras e cisternas);
Fase Amarela ou Média Dificuldade no Atendimento de Água:
1 – Criação de um Grupo Gestor de Crise, que ficará responsável por executar preventivamente ações estratégicas que viabilizem a agilização de providências emergenciais, caso necessárias;
2 – Elaboração prévia de um Plano de Contingência contendo previsões de ações e gatilhos para suporte e tomada de decisão em períodos de crise no abastecimento de água;
3 – Elaboração preventiva de Decretos Municipais de Situação de Emergência (S.E.) ou Estado de Calamidade Pública (E.C.P.), para serem utilizados quando necessário.
4 – Elaboração de estratégias, o mais rápido possível, para diversificação de fontes para o uso dos recursos hídricos disponíveis, de acordo com as necessidades prioritárias e disponibilidade hídrica da região;
5 – Elaboração de cadastro prévio de caminhões-pipa pelas prefeituras e empresas, sendo que os caminhões que transportam água bruta não poderão transportar água potável, devido ao risco à saúde pública por contaminação da água;
6 – Mapeamento e cadastro, pela prefeitura ou serviço de água, de todos os poços de água subterrânea e mananciais disponíveis no município;
7 – Mapeamento das comunidades e regiões críticas ou sem atendimento adequado aos serviços de saneamento, a fim de garantir o abastecimento seguro e consciente;
8 – Verificar se o estoque de suprimentos essenciais ao tratamento de água é suficiente para um período de pelo menos 6 meses, tendo em vista que a dosagem de produtos químicos pode sofrer alterações;
9 – Sensibilização da população quanto às consequências do uso irregular e exagerado da água e conscientização de usuários quanto aos impactos gerados por captações e lançamentos clandestinos, com intensificação da fiscalização coibir irregularidades.
Fase Vermelha ou Alta Dificuldade no Atendimento de Água:
1 – Atuação efetiva e suporte de um Grupo Gestor de Crise, responsável por executar ações estratégicas e providências emergenciais, caso necessárias;
2 – Execução de ações de mitigação previstas no Plano de Contingência observando as necessidades operacionais, dificuldades, falhas, custos, prazos, entre outros indicadores de suporte a decisão;
3 – Execução de estratégias de emergência, incluindo captação de água por fontes alternativas e seguras, como as águas subterrâneas, e o abastecimento através de caminhões-pipa e incentivos uso inteligente da água;
4 – Suporte ao atendimento das comunidades e regiões críticas ou sem abastecimento adequado aos serviços de saneamento, a fim de garantir o uso seguro e consciente da água;
5 – Estruturação de acesso, pela prefeitura ou serviço de água, de todos os poços de água subterrânea e mananciais particulares disponíveis no município;
6 – Aparelhamento de captações provisórias reservatórios (açudes) públicos e privados, independente do porte, existentes no município, para utilização em caso de emergência;
7 – Levantamento da existência de cavas de mineração com água armazenada, no município, e análise da qualidade e metodologias para a captação e distribuição da água disponível;
8 – Promoção do estímulo e acompanhamento, junto a produtores rurais, do uso de cacimbas, cisternas e reservatórios em solo escavado, com impermeabilização e cobertura para evitar a evaporação das águas de chuvas que venham a ocorrer nesse período;
9 – Emissão de decreto municipal com medidas para o controle dos desperdícios de água realizados pela população e usuários, com aumento da fiscalização para impedir que elas aconteçam;
10 – Utilização dos Decretos Municipais de Situação de Emergência (S.E.) ou Estado de Calamidade Pública (E.C.P.), a fim de agilizar ações e atividades emergenciais para garantia do direito à cidadania e do uso prioritário dos recursos hídricos para o consumo humano e dessedentação dos animais.
22 METAS DA SUSTENTABILIDADE HÍDRICA FUTURA
O Consórcio PCJ recomenda ainda que as 22 Metas da Sustentabilidade Hídrica Futura sejam aplicadas como forma de contingenciamento aos reflexos das estiagens severas e das mudanças climáticas. Dentre as 22 metas destacam-se a redução das perdas hídricas para patamares abaixo de 20%, a implantação de Saneamento 100%, ou seja, 100% de tratamento e coleta de esgoto, e 100% de abastecimento de água potável.
Também se estabeleceu como meta a redução do consumo de água para 110 litros por habitante/dia, esse índice atualmente nas Bacias PCJ está acima de 200 litros. O documento ainda sugere que o tema água seja tratado como assunto de segurança nacional nas políticas voltadas à gestão de recursos hídricos e incentiva a construção de reservatórios municipais, bacias de retenção em áreas rurais e piscinões ecológicos na área urbana.
Abaixo, confira as 22 Metas para a Sustentabilidade Hídrica Futura:
1) Alcançar a Universalização do Saneamento – 100% de coleta e tratamento de esgoto e 100% de tratamento de água;
2) Recuperar e garantir a preservação das matas ciliares, com objetivo de melhorar a qualidade e quantidade da água nos cursos d’água;
3) Buscar o reenquadramento dos mananciais de abastecimento público para rios de classe adequada;
4) Promover a gestão participativa da água, possibilitando a participação efetiva da comunidade nos processos de decisão;
5) Diminuir as perdas hídricas nos serviços de abastecimento para patamares abaixo de 20%, índice indicado internacionalmente;
6) Ampliar o monitoramento, tanto de quantidade e qualidade dos rios;
7) Expandir o monitoramento meteorológico com o objetivo de se preparar para a ocorrência de eventos climáticos extremos;
8) Elaborar e executar Planos Municipais de Recursos Hídricos e Saneamento Básico;
9) Ampliar a reservação de água bruta e tratada;
10) Promover a cultura de abastecimento por várias fontes de água e não apenas uma única exclusivamente;
11) Assegurar divisão justa da água entre os setores: público, industrial e rural;
12) Alçar a água como item de segurança nacional no contexto de políticas públicas;
13) Reduzir a desigualdade social gerada pela falta de acesso à água tratada;
14) Elaborar e executar Planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, promovendo a implantação dos 3 erres da sustentabilidade: Reduzir, Reciclar e Reutilizar;
15) Classificar as mudanças climáticas como grave risco à segurança hídrica dentro dos Planos de Atuação dos Comitês de Bacias Hidrográficas;
16) Prever ações de contingenciamento para a ocorrência de eventos hidrológicos extremos nos Planos de Bacias e nos Planos Municipais de Recursos Hídricos;
17) Intensificar campanhas de Educação Ambiental e uso racional, trazendo o consumo de água para o nível recomendado pela Organização das Nações Unidas, que é de 110 litros de água por habitante/dia;
18) Fortalecer e ampliar redes regionais com ampla participação da sociedade civil, objetivando intensificar o debate de novas políticas públicas voltadas à gestão de recursos hídricos;
19) Ampliar o saneamento em áreas rurais;
20) Fomentar centros de pesquisas voltados ao aprimoramento e desenvolvimento de novas tecnologias para a gestão da água;
21) Promover o aumento da capacitação dos profissionais da área com maior acesso a cursos técnicos e de graduação, especialização, mestrado e doutorados na gestão de recursos hídricos;
22) Intensificar as Parcerias Públicas Privadas na execução efetiva dos Planos de Bacias.