Por Flávio Forti Stênico e Aguinaldo Brito Júnior*
Os plásticos são materiais sintéticos e, embora existam há pouco mais de um século, a versatilidade destes materiais levou a uma grande utilização nas últimas três décadas, estando presentes em todos os aspectos da vida cotidiana, como para o uso em diversos tipos de embalagens para alimentos, bebidas, e produtos em geral. Porém, a acumulação no ambiente destes materiais, devido à sua lenta decomposição e consumo excessivo, conhecida como poluição plástica, coloca a saúde de todos os ecossistemas em risco, como atenta o relatório “Da Poluição à Solução: uma análise global sobre lixo marinho e poluição plástica”, realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Estudos recentes apontam para riscos ainda não mapeados para a saúde humana devido à presença de micro plásticos no corpo humano. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) encontram presença desse material no cérebro humano e em outros órgãos também, mas ainda não se sabe os efeitos para a saúde.
É com essas preocupações que chegamos ao Dia Mundial do Meio Ambiente 2025, celebrado no dia cinco de junho pela Organização das Nações Unidas (ONU), que trabalha o tema “Combate à poluição plástica”, com o objetivo de discutir os impactos da poluição plástica e impulsionar a redução, reciclagem e a reconsideração do uso de plásticos. A ONU alerta que, globalmente, estima-se que 11 milhões de toneladas de resíduos plásticos vazam para ecossistemas aquáticos a cada ano. Mas afinal, quais são os impactos da poluição plástica na gestão dos recursos hídricos?
O PROBLEMA DOS PLÁSTICOS
De acordo com a associação comercial PlasticsEurope, a produção mundial de plástico em 1950 era de cerca de 1,5 milhão de toneladas por ano. Atualmente, segundo a ONU, a humanidade produz cerca de 460 milhões de toneladas e, destes números, entre 4,8 e 12,7 milhões são descartadas nos oceanos anualmente por países com litoral oceânico. Se comparados a outros materiais de uso comum, como vidro, papel, ferro e alumínio, os plásticos apresentam baixa taxa de recuperação. Ou seja, são relativamente ineficientes para reutilização, rapidamente se tornam resíduos, apresentam um processo lento e complexo de decomposição que pode levar décadas ou até séculos, fragmentando-se em microplásticos, que podem permanecer no meio ambiente por muito mais tempo, poluindo o solo, a água, o ar e os oceanos, causando riscos à saúde.
Ao chegarem aos oceanos, os plásticos causam efeitos letais e subletais em baleias, focas, tartarugas e peixes, bem como em invertebrados. Seus efeitos incluem fome, afogamento, sufocamento e privação de oxigênio. Além disso, o material também pode alterar o ciclo global do carbono por meio de seu efeito sobre a produção primária em sistemas marinhos. Ecossistemas marinhos como manguezais (local que funciona como uma transição do meio marinho para o terrestre), ervas marinhas e corais, desempenham um papel importante no sequestro de carbono (processo de remoção de gás carbônico da atmosfera).
“Muitas pessoas não estão cientes de que um material que está intrínseco em nossa vida diária pode ter impactos significativos não apenas na vida selvagem, mas no clima e na saúde humana”, diz LIorenç Milà i Canals, chefe da Iniciativa de Ciclo de Vida do PNUMA.
OS MICROPLÁSTICOS NA GESTÃO DA ÁGUA
Quando os plásticos se decompõem, eles se transformam em microplásticos, que são minúsculas partículas de plástico que não desintegram totalmente, contaminando solo, água, animais e pessoas. Estes fragmentos de plástico podem ter até cinco milímetros de diâmetro e, segundo o PNUMA, quando ingeridos pela vida marinha, têm efeitos tóxicos e mecânicos.
Além do mais, o relatório do PNUMA “Da Poluição à Solução”, alertou que os produtos químicos presentes nos microplásticos estão associados a sérios impactos na saúde humana. As pessoas podem inalar os fragmentos pelo ar, ingeri-los na água e os absorver através da pele e, as consequências incluem alterações na genética humana, desenvolvimento cerebral e taxas de respiração.
A poluição plástica afeta a gestão de recursos hídricos, já que o plástico descartado irregularmente nas ruas e terrenos das áreas urbanas e em lixões clandestinos são literalmente levados por água abaixo durante as precipitações de chuvas, contaminando os rios de nossas bacias hidrográficas, além de gerar custos para a remoção e gestão adequada desses resíduos dos cursos d’água.
Além disso, a maioria dos sistemas de tratamento de esgoto atualmente não têm condições de remover os microplásticos dos efluentes. Isso é particularmente preocupante para o setor do saneamento básico, pois os microplásticos podem ter a capacidade de agregar outras substâncias nocivas presentes na água, as quais poderão ser ingeridas por peixes ou pelas populações.
A POLUIÇÃO PLÁSTICA NO BRASIL E NAS BACIAS PCJ
Segundo o relatório “Fragmentos da Destruição: impacto do plástico à biodiversidade marinha brasileira”, divulgado pela Organização não Governamental (ONG) Oceana, o Brasil é o oitavo país do globo e o maior poluidor da América Latina em descarte de plástico no oceano, com 1,3 milhão de toneladas lançadas.
A pesquisa constatou a ingestão de plástico em 200 espécies marinhas, das quais 85% estão em risco de extinção. Desses animais, um em cada 10 morreu em decorrência de problemas como desnutrição e diminuição da imunidade após a exposição a compostos químicos nocivos às espécies, descreve o relatório.
Toda essa poluição plástica que chega aos oceanos brasileiros está intrinsecamente ligada à má gestão dos resíduos. Um estudo da ONG norte-americana Center for Climate Integrity mostrou que apenas 1,3% do plástico é reciclado no Brasil, decorrente da falta de infraestrutura adequada para coleta seletiva (recolhimento dos materiais que são possíveis de serem reciclados), separação e processamento dos resíduos plásticos.
A Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) 2023, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que nacionalmente, cerca de 60,5% municípios, com algum serviço em manejo de resíduos sólidos, tinham coleta seletiva. Porém, regionalmente, houve uma grande variação. Na Região Sul, constatou-se que 81,9% dos municípios possuíam a coleta. Em contraste, a Região Norte apresentou apenas 33,5%.
Na região das Bacias PCJ, o Projeto Recicla Junto, criado em 2023 pelo Consórcio Intermunicipal de Manejo de Resíduos Sólidos da Região Metropolitana de Campinas (Consimares), promove há 18 meses a coleta seletiva e a destinação correta de resíduos sólidos recicláveis nos municípios do Consimares, evitando assim que esses materiais acabem em aterros sanitários ou descartados no meio ambiente.
O Consórcio PCJ, por meio do seu programa de Saneamento e Resíduos Sólidos, procura fomentar a conscientização e o planejamento de políticas públicas municipais e regionais, visando o estabelecimento de um sistema integrado e participativo de saneamento ambiental nas Bacias PCJ. Cabe destacar que manejo correto de resíduos se caracteriza pela coleta, transporte, tratamento e destinação final adequada dos resíduos, com a finalidade de repensar, reduzir, reutilizar e reciclar os materiais.
A versatilidade do plástico e seu baixo custo levaram a sociedade a utilizá-lo em exacerbação, com consequências ambientais, sociais e de saúde pública, que ainda não foram totalmente identificadas. A poluição plástica se configura como um risco adicional à gestão dos recursos hídricos, já impactada pelas mudanças climáticas. Ações e projetos com foco na redução do uso de plástico e aumento da reciclagem, devem ser reforçados e colocados cada vez mais em prática, a fim de reduzir seu uso. O Consórcio PCJ, por meio dos seus programas de atuação, focado no fomento, planejamento e sensibilização, tem auxiliado municípios e empresas na gestão adequada de resíduos, a fim de mitigar os impactos ambientais, em modo mais particular, na gestão da água e saneamento.
SOBRE O DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE
O Dia Mundial do Meio Ambiente foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1972, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, Suécia. Esta conferência foi o primeiro grande encontro internacional focado em questões ambientais, marcando o início de uma abordagem global e coordenada para a proteção do meio ambiente.
Desde então, o Dia Mundial do Meio Ambiente tornou-se uma das principais datas do calendário ambiental, sendo comemorado em mais de 150 países com eventos, campanhas de sensibilização, ações educativas e políticas públicas.
*Flávio Forti Stênico
Assessor Técnico do Consórcio PCJ – Engenheiro civil, com pós-graduação em Gerenciamento dos Recursos Hídricos, e em Infraestrutura do Saneamento Básico e Planejamento e Regulação.
*Aguinaldo Brito Júnior
Coordenador de projetos do Consórcio PCJ – Engenheiro civil, com pós-graduação em Infraestrutura do Saneamento Básico.
Foto de mali maeder