Projeto de Revitalização do Quilombo quer intensificar ações de tratamento dos lançamentos industriais no ribeirão

Consórcio PCJ destacou em webinar a iniciativa como essencial para que curso d’água atinja a sua despoluição em 2035

Na última quinta-feira, dia 17, aconteceu o webinar “Mobilização para a Revitalização do Ribeirão Quilombo”, com objetivo de informar as novas administrações municipais sobre o Projeto de Revitalização desse curso d’água, implantado pelo Consórcio PCJ, desde 2018, e o estágio atual da iniciativa, como também, debater os resultados alcançados até o momento. Durante o encontro em ambiente digital, a entidade destacou como o próximo passo do projeto os esforços para se avançar no tratamento de efluentes industriais, caso contrário será difícil que a despoluição das águas do ribeirão ocorra por completo.

Segundo o Secretário executivo do Consórcio PCJ, Francisco Lahóz, a sub-bacia do Quilombo vem mostrando grandes avanços no tratamento de esgotos urbanos, como a inauguração da mais recente Estação de Tratamento de Esgotos (ETE), com tecnologia de Estação Produtora de Água de Reuso (EPAR), Boa vista, em Campinas, que elevou o tratamento na cidade para 100%. Outros municípios possuem índices próximo a esse, com exceção de Sumaré, que trata apenas 24% dos seus esgotos.

Lahóz, porém, destacou que só tratar os efluentes urbanos não será suficiente para a despoluição do curso d’água. “O Ribeirão Quilombo tem uma vazão muito diminuta, mesmo com a remoção de cargas poluidoras urbanas dos municípios ainda tem as cargas industriais, embora, as empresas atendam as resoluções da legislação vigente, ainda assim, a lei permite um remanescente residual, que somada a anos de lançamentos acaba gerando uma carga poluidora significativa, já que o volume de vazão do Quilombo, algo em torno de 5 m³/s, não permite a diluição dessa poluição”, atentou.

Sem tratar efluentes industriais não se consegue mudar a qualidade da água dos rios

As águas dos rios são divididas em classes de qualidade estabelecidas pela resolução CONAMA 357 de 2005. Em cada uma delas existe um limite mínimo e máximo de cargas poluidoras. Estudos demonstram que cursos d’água que recebem esgotos domésticos e efluentes industriais torna-se mais complexa a classe. “Para mudarmos a classe de um rio é preciso atenção especial por parte das empresas no que tange os efluentes industriais e, atendendo à Política Nacional de Resíduos sólidos, proceder criteriosa análise sobre os componentes químicos utilizados no sistema produtivo de forma a substituí-los por outros produtos que permitam o reuso e reduzam o lançamento dessas cargas junto aos corpos d’água”, completa Lahóz.

O CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), lançou em 2011, a resolução 430, que dispõe parâmetros e diretrizes para lançamentos em corpos de água. Ainda segundo Lahóz, “é uma questão de medidas não estruturais e de uma pactuação regional para que todos cumpram a lição de casa e as empresas, além de atenderem a legislação, procurem ampliar ainda mais sua contribuição com o uso de produtos que poluam menos ao serem lançados nos cursos d’água”.

Somente com a soma dessas ações, ao lado da recuperação das matas ciliares, permitirá o Quilombo mudar sua classe de rio em 2035 e ser possível o uso de suas águas como uma reserva estratégica para a sustentabilidade hídrica futura da região.

No Brasil existem pouquíssimas experiências de rios que mudaram sua classe de qualidade. Nas Bacias PCJ, há apenas um único exemplo, o do Rio Jundiaí, que passou de classe 4 para 3. O Plano das Bacias PCJ prevê que em 2030, todos os rios da região deverão ser de classe 3.

Municípios na sub-bacia do Quilombo estão executando ações de recuperação

Além da participação do Secretário executivo do Consórcio PCJ, Francisco Lahóz, o webinar contou com as apresentações do assessor técnico da entidade, Flávio Forti Stenico, do superintende do Departamento de Água e Esgoto de Americana, Carlos Zappia, da Diretora de Licenciamento Ambiental e Gestão de Resíduos na Secretaria de Meio Ambiente de Hortolândia, Eliane Sousa, e da coordenadora de tratamento de esgoto da SANASA Campinas, Renata de Gasperi.

Stenico realizou uma contextualização do Projeto de Revitalização do Quilombo, implantado pelo Consórcio PCJ em 2018 e os avanços promovidos nesses três anos de ações em parcerias com os municípios da sub-bacia.

Em seguida, Eliane destacou as ações de saneamento que Hortolândia tem realizado que estão impactando a sub-bacia do Quilombo, como por exemplo, a coleta de 98% de esgoto e 100% destes sofre tratamento antes de ser lançado no Ribeirão Jacuba, afluente do Quilombo.  Ela ainda pontuou sobre os reservatórios de água para combate a enchentes e a implantação de parque lineares. A diretora da secretaria de meio ambiente ainda abordou sobre o projeto de mapear e preservar as nascentes da sub-bacia do Quilombo com o intuito de ampliar a disponibilidade hídrica.

Zappia apontou o problema do ligamento de água pluviais à rede de esgoto em Americana, como extremamente importante para a melhoria da qualidade da água do curso d’água, já que isso permite poluição por cargas difusas. O superintendente do DAE lembrou ainda que o Quilombo já foi o primeiro manancial da cidade e que é retornar a qualidade de suas águas é estratégico para o município.

Renata de Gaspari deu detalhes sobre a recente inauguração e operação da EPAR Boa Vista, que fez Campinas alcançar a meta de 100% do esgoto tratado no município. A Estação possui uma das tecnologias mais modernas do mercado, com eficácia de 98%. A EPAR Boa Vista contribui com 10% do todo o esgoto tratado na cidade de Campinas. Esta é a segunda EPAR em operação pela Sanasa, a outra é a EPAR Capivari II.

Abertura do evento contou com a presença de autoridades

O encontro digital ainda contou na abertura com as presenças do Presidente da Sanasa e vice-presidente do Programa de Sistemas de Monitoramento das Águas do Consórcio PCJ, Manuelito Pereira Magalhães Júnior, e do presidente do Consórcio PCJ e prefeito de Limeira, Mário Botion.

Manuelito pontuou sobre a importância de se recuperar os corpos hídricos, especialmente, agora, que estamos num momento tão crítico de uma possível estiagem severa como na crise hídrica de 2014. Segundo ele, “investir no saneamento significa devolver qualidade ao rio”.

O Presidente do Consórcio PCJ destacou a ousada meta da entidade em recuperar o Quilombo até 2035 e enalteceu o trabalho da equipe técnica. “Este é um assunto muito importante, que o Consórcio PCJ saiu na frente, buscando ser um catalizador para que todas essas ações se concretizem”, disse Botion.

Sobre o Ribeirão Quilombo

O Ribeirão Quilombo percorre 54,7 km, entre os municípios de Campinas, Paulínia, Hortolândia, Sumaré, Nova Odessa e Americana, tendo sua foz no Rio Piracicaba e uma vazão média de 5,5 m³/s. Por cruzar uma região extremamente urbana e com forte conurbação, o ribeirão viu a qualidade de suas águas se deteriorarem de forma bem intensa, nas últimas décadas. Após a crise hídrica de 2014 e 2015, o Consórcio PCJ passou a olhar para o ribeirão com outros olhos, com a perspectiva de revitalizá-lo para poder contar com o uso de suas águas na ampliação da oferta hídrica da região. Assim, foi criado o Projeto de Revitalização do Quilombo, em 2018, com a ousada meta de trazer a vida ao curso d’água até o ano de 2035.

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