Chuvas dos últimos dias ainda não recarregaram o lençol freático, alerta Consórcio PCJ

Em apenas uma semana, choveu mais que o esperado para todo o mês de setembro nas Bacias PCJ. No posto de medição na sede do Consórcio PCJ, em Americana (SP), choveu de sábado, dia cinco de setembro, até a última sexta-feira, dia 11, aproximadamente 142 mm. A média de chuvas em Americana, para o mês de setembro, é de 39,5 mm e nas Bacias PCJ é de 70 mm. Só em Campinas, de acordo com o Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp, choveu 74 mm nas últimas 72h. Ainda que tenham melhorado as vazões dos rios castigados pela estiagem que já dura dois anos, as chuvas que estão ocorrendo ainda não foram suficientes para a recarga do lençol freático e uma nova pausa nas precipitações pode colocar novamente as vazões em níveis críticos.
O Rio Piracicaba, por exemplo, que há uma semana apresentava vazão abaixo de 20 m³/s, apresenta nessa sexta-feira, 171 m³/s, um aumento de 855% em menos de sete dias. Os postos de medição para referência das vazões de restrição da Resolução da ANA/DAEE nº 50, que obriga empresas de saneamento, indústrias e setor rural a reduzirem suas captações de água, estão todos operando sem alertas ou restrições, realidade bem diferente da vivenciada na região ao final de agosto, quando os Rios Camanducaia e Atibaia estavam com vazões muito críticas e, portanto, com restrição às captações.

O Consórcio PCJ alerta à comunidade que esse cenário ainda não tirou as Bacias PCJ da situação de escassez hídrica. Fortes chuvas causam estragos nas cidades e problemas de alagamentos, devido à ineficiente drenagem urbana, elevam de forma deliberada as vazões dos rios, mas não recarregam o lençol freático, espécie de rios subterrâneos que alimentam rios e nascentes, na mesma intensidade. Um levantamento preliminar do Consórcio PCJ atenta que das chuvas que estão ocorrendo, em torno de 30% a 40% do volume dessa água é efetivamente absorvida pelo lençol freático, promovendo a sua recarga.

Para se ter ideia da situação crítica que a estiagem de dois anos está propiciando à região, as chuvas do início de setembro elevaram a vazão média de afluência ao Sistema Cantareira, ou seja, a quantidade de água que entra nos reservatórios,  para 34 m³/s nos últimos 3 dias. Estudos da equipe técnica do Consórcio PCJ, apontam que serão necessários 650 dias para recuperar o Sistema com esse volume de precipitações e praticando retiradas máximas de 14 m³/s para abastecer a Grande São Paulo e as Bacias PCJ.

“Um cenário de forte precipitação durante todo o ano é quase impossível de ocorrer, o que pode fazer com os reservatórios do Sistema Cantareira passem ainda alguns anos operando em volume críticos”, comenta o coordenador de projetos do Consórcio PCJ, José Cezar Saad.

Diante desse cenário, a entidade intensificou o apelo junto aos municípios para realizarem toda obra possível para armazenar a água das chuvas que estão ocorrendo. Uma alternativa barata e de fácil construção são as bacias de retenção, que recarregam o lençol freático, além de evitar erosão na zona rural.

As bacias de retenção, também conhecidas como bacias de captação ou cacimbas, podem ser construídas tanto em área urbana ou rural, sendo mais comum ao lado de estradas vicinais. A localização delas é definida tecnicamente em função do declive do terreno, da área de exposição, tipo de solo e volume de precipitação local.

Durante todo ano, porém com mais expressão no decorrer da estação chuvosa, que ocorre entre os meses de outubro a março, as bacias armazenam as águas das chuvas, que por infiltração através dos horizontes do perfil do solo vão abastecer o lençol freático, aumentando o potencial dos mananciais e nascentes.

“As bacias de retenção podem ser nossa última saída para aumentar a reserva técnica de água das Bacias PCJ para as próximas estiagens, é necessário ampliar sua implantação em toda a região”, alerta o Secretário Executivo do Consórcio PCJ, Francisco Lahóz.

O momento é de atenção e continuar com o comportamento de uso racional de água. “Intensificamos o apelo à comunidade para não esmorecer nas atitudes de economia de água, mesmo que a imagem de rios cheios e ruas alagadas possam conotar a falsa impressão de abundância hídrica. As fortes chuvas geram problemas de drenagem, aumentam a vazão dos rios, mas toda essa água não é armazenada, é toda escoada para o Rio Tietê, depois para o Rio Paraná, até chegar a região do Prata, na Argentina”, atenta a gerente técnica do Consórcio PCJ, Andréa Borges.

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