Educação Ambiental Crítica: mas, toda iniciativa de educação ambiental já não é crítica?

Por Andréa Borges Gerente técnica do Consórcio PCJ 

O Brasil se destaca mundialmente pela riqueza de recursos naturais, dentre eles, a água. No entanto, a degradação e exploração desses recursos têm gerado impactos significativos, não apenas à biodiversidade, mas também à qualidade de vida da população.

A Educação Ambiental no Brasil consolidou-se como um campo de conhecimento, prática pedagógica e política pública nas décadas de 1970 e, especialmente, de 1980. O aumento de esforços em prol do meio ambiente despertou, nas últimas décadas, a consciência sobre as interações entre a sociedade e a natureza – ou melhor, que somos um só.

Na área de gestão de recursos hídricos, a educação ambiental se concretiza através da promoção da cidadania e do seu exercício pleno, com a participação ativa dos cidadãos em vários níveis de decisão, como aponta a Política Nacional de Educação Ambiental, instituída pela Lei 9.795/1999.

A EA (Educação Ambiental) estimula cada pessoa a refletir sobre sua responsabilidade no cuidado com a água, e a compreender as consequências de suas ações, como o descarte inadequado de lixo, a degradação de matas ciliares, o uso impróprio de óleo de cozinha e de outros poluentes, entre outras ações que impactam diretamente os rios e oceanos.

Esses exemplos representam ações individuais, que constituem apenas uma face do engajamento da população na preservação da água. Mais do que simplesmente motivar ações individuais, o objetivo da educação ambiental é engajar as pessoas a atuarem em espaços de tomada de decisão, que possam gerar mudanças efetivas na gestão ambiental pública.

A EA abrange uma diversidade de vertentes, com conceitos, práticas e metodologias próprias, dentre as quais, iremos abordar com mais profundidade nesse artigo a Educação Ambiental Crítica.

O que é Educação Ambiental Crítica?

A Educação Ambiental Crítica emergiu como uma proposta política e pedagógica alinhada ao socio ambientalismo, com o objetivo de construir sociedades sustentáveis, conforme inserido no Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global.

Esse tratado resultou de um esforço coletivo da sociedade civil, representada por organizações não governamentais (ONGs) e movimentos sociais de diversos países durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco 92, realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992.

A Educação Ambiental Crítica busca a compreensão de que nossas ações interferem diretamente no meio ambiente ao nosso redor. Seu objetivo principal é fazer as pessoas entenderem que os problemas não são naturais, mas que acontecem por intervenção humana. Portanto, é preciso mudar não só o que uma pessoa faz, mas o que todas as pessoas fazem juntas.

A EA Crítica possui uma posição importante em meio a uma variedade de discursos e práticas de EA. Ela oferece para as discussões e atividades educacionais reflexões essenciais de ecologia política, da complexidade e da ética socioambiental, especialmente no contexto do meio ambiente e da sustentabilidade.

A grande dificuldade dessa forma de pensar é sensibilizar as pessoas de que, o que fazemos, culturalmente, socialmente e politicamente, está relacionado diretamente à problemática ambiental. Sendo assim, alcançar efetivamente a sustentabilidade passa pela criação de sociedades mais justas, pacíficas, equitativas e resilientes.

Exemplo de EA Crítica: a Casa+Sustentável

A Casa+ Sustentável, localizada em Americana/SP, na sede do Consórcio PCJ, é um espaço aberto à comunidade para aprender mais sobre práticas sustentáveis de consumo consciente de água e energia elétrica, além de estar alinhada a elementos que contribuem para uma Educação Ambiental Crítica. Quer saber como? A seguir dou mais detalhes.

Ao abrir as portas para o público, a Casa+Sustentável transforma-se em um local de aprendizado coletivo, onde as pessoas têm a oportunidade de adquirir conhecimento e contribuir para um diálogo sobre as práticas sustentáveis e os desafios socioambientais.

No espaço, os visitantes são convidados não só a revisar seus conhecimentos e suas práticas individuais sobre o meio ambiente e a água, mas, também, refletir sobre o seu papel no coletivo, na sociedade, em como contribuir para melhorar o mundo em que vivemos na atualidade.

Podemos dividir a visita à Casa em três etapas estruturantes: na primeira, os visitantes compreendem o conceito de bacia hidrográfica e como a gestão da água impacta o nosso dia a dia; em seguida, são apresentadas ações que estimulam a mudança de comportamento para redução dos impactos ambientais; por fim, os visitantes são estimulados a refletir sobre quais atitudes relacionadas ao consumo inconsciente eles podem mudar para tornar o mundo mais sustentável, configurando-se, assim, na terceira etapa do processo de sensibilização ambiental.

O fornecimento de material didático aos professores e alunos visitantes é outro aspecto que reforça a conexão com a EA Crítica. Isso facilita a multiplicação de conhecimentos e fornece uma base para explorar questões mais complexas relacionadas à sustentabilidade, promovendo uma análise crítica das interações humanas com o ambiente.

Espaços educativos como a Sala Fontes de Geração, onde os visitantes aprendem quais são os tipos de fontes de energia renováveis e não renováveis, e podem gerar energia elétrica pedalando em bicicletas para acender três tipos de lâmpadas (LED, Fluorescente e Incandescente), abordam o esforço coletivo na produção e geração de energia limpa, convidando para o debate sobre como o consumo inconsciente impacta na disponibilização de energia para todos.

Outra atração da casa que motiva a sensibilização crítica sobre os hábitos de consumo é a piscina de bolinhas, que conta com a projeção de um jogo intitulado “Desperdício Zero”, no qual as crianças arremessam bolinhas na parede, visando “detonar” os desperdícios, representados por atitudes inadequadas de consumo de Energia Elétrica e Água.

No espaço da Cozinha da Casa+Sustentável são abordados conceitos sobre o consumo de alimentos e gestão de resíduos, considerando os diversos “Rs” da sustentabilidade, como: repensar; reduzir; reutilizar; e reciclar. Na Lavanderia, por meio da comparação de eletrodomésticos e novas tecnologias, é debatido como combater o desperdício de água e de energia elétrica na lavagem e secagem das roupas, bem como a possibilidade de fazer o reuso da água e a captação da água da chuva.

Essas e outras iniciativas da Casa Mais têm como princípio iniciar os debates sobre o que é sustentabilidade no ambiente micro (a casa das pessoas), para depois partir para questões mais macro, como o bairro e a cidade em que vivemos. Essa abordagem também nos remete às premissas da Agenda 21, sobre “pensar globalmente, e agir localmente”.

A sensibilização que a Casa+Sustentável objetiva gerar ao público não é apenas para a implementação de práticas sustentáveis, mas também para criar um entendimento mais profundo em relação às causas e aos problemas socioambientais, estimulando uma mudança cultural. Começar pela mudança das práticas realizadas em nossas casas é fácil, o desafio é irradiar as mudanças para outros ambientes coletivos, como o local de trabalho, a escola, o bairro, a cidade, o estado, o país, todo o mundo! Para isso, precisamos pensar e agir politicamente, participando da criação e implementação de políticas públicas que tenham como finalidade a redução das injustiças socioambientais, para desta forma, começarmos a construir sociedades mais sustentáveis.

Para saber mais sobre o projeto acesse o link: https://agua.org.br/casamaissustentavel/

*Andréa Borges é bióloga, mestra em Ciências Ambientais

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